Saúde e Bem-Estar

Vitrificação de óvulos: Quando as mulheres “congelam” a maternidade

3 Janeiro, 2022

Embora as portuguesas sejam mães cada vez mais tarde, “a fertilidade não é infinita”. Por isso, já são muitas as que recorrem à vitrificação de óvulos.

Por certo já terá ouvido falar em vitrificação de óvulos ou congelação de óvulos. São cada vez mais comuns as histórias de mulheres que tendem a adiar a maternidade. A vida empurra-as para outras direções e quando decidem, finalmente, ter um filho, o fator idade torna-se o maior obstáculo.

Nascem cada vez menos bebés em Portugal e, segundo os especialistas, a idade aconselhada para tentar engravidar é até aos 35 anos. O corpo também envelhece. Por isso, quando decidem atrasar o relógio biológico, já são muitos os elementos do sexo feminino que recorrem à ciência para congelar os óvulos. A fertilidade não dá tréguas e diminui com o avançar da idade, tal como é referido na nova plataforma online quandoestiverespronta.pt.

Para lá dos problemas de saúde

Segundo o Dr. Pedro Xavier, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução, esta é uma “técnica de congelação química (designada vitrificação), que permite manter os óvulos num estado ‘latente’ durante anos, sem que se verifique o envelhecimento celular que ocorre com o passar do tempo”. E já não são apenas mulheres com problemas de saúde que recorrem a ela. Embora o número, por razões não médicas, seja baixo, a verdade é que tem aumentado nos últimos anos em Portugal.

O procedimento Qual é a motivação de quem faz congelação de óvulos? A idade ou algum problema de saúde?

Dr. Pedro Xavier – Há dois tipos de motivação. Quando existe a necessidade de realizar algum tratamento médico ou cirúrgico que ponha em risco a integridade do ovário ou o património de óvulos, neste caso a congelação de óvulos é dita de “causa médica”. Nos casos em que a mulher pretende preservar o seu potencial reprodutivo, porque, por exemplo, apesar de uma idade já mais avançada não tem um companheiro para engravidar, mas quer fazê-lo mais tarde, é considerada uma congelação não-médica ou “social”.

Como se processa? É preciso algum tipo de preparação? É algo doloroso?

Obriga a fazer uma estimulação dos ovários com injetáveis diários durante um período que pode variar entre 10 e 12 dias. Depois disso, realiza-se a colheita dos óvulos por via vaginal e com uma anestesia ligeira (sedação), para que a mulher não sinta qualquer dor durante o procedimento.

De 10 a 15 óvulos Quantos óvulos é possível preservar?

É muito variável e esse número depende bastante do “património” de óvulos que a mulher ainda tenha no momento em que faz a congelação, aspeto esse muito ligado à idade. Em termos médios, considera-se aceitável a congelação de um número que varie entre os 10 e os 15.

Que cuidado é preciso ter depois do procedimento?

Apenas ter um estilo de vida mais sedentário durante a primeira semana após o procedimento e realizar uma ecografia para confirmar que os ovários voltam à sua normalidade.

Existe um tempo para os óvulos ficarem congelados? E uma idade para as pessoas o fazerem?

O período inicial de congelação é de 5 anos, mas pode ser prolongado desde que a mulher manifeste esse desejo. A idade ideal para a sua realização é difícil de definir, uma vez que, se o fizer muito cedo, poderá nunca necessitar de usar esses óvulos porque acabará por engravidar de forma natural. Por outro lado, depois dos 40 anos, os resultados são muito maus. Acredita-se que o ideal será fazê-lo entre os 32 e os 38 anos.

Gravidez mais tardia

As mulheres engravidam facilmente?

A probabilidade de uma mulher engravidar com os óvulos que congelou depende muito do número que obteve. Com 10 óvulos e numa idade a rondar os 35 anos, a probabilidade é de cerca de 50%. A utilização desses óvulos implica sempre a realização de uma técnica de procriação medicamente assistida.

Por norma, a gravidez – nestes casos – é bem-sucedida?

É muito semelhante às restantes gravidezes alcançadas com outras técnicas de procriação medicamente assistida. Geralmente, são bem-sucedidas. Esta é uma opção, principalmente para quem teve alguma doença, como cancro.

Mas não é um contrassenso, na medida em que há sempre o risco de uma gravidez tardia?

A congelação de óvulos por causas médicas é uma técnica de recurso para manter uma esperança numa gravidez futura. As congelações “sociais” só devem ser realizadas se a mulher não tiver um projeto parental que lhe permita ter uma gravidez mais cedo. O ideal é a mulher engravidar de forma natural e em idades que não excedam muito os 35 anos, uma vez que se mantém o risco de complicações maternas nas gravidezes em idades tardias, mesmo quando utilizam óvulos congelados em idades mais jovens.

Preço da vitrificação de óvulos

O valor para a congelação de óvulos pode variar entre os 3 e os 4 mil euros, sendo que em hospitais públicos o Estado só comparticipa em situações de casos de doenças oncológicas.

Número aumenta

São cada vez mais as mulheres que decidem congelar óvulos para adiar a maternidade, seja por causas sociais, por questões profissionais ou por falta de um parceiro estável. Segundo dados do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA), referenciados ao DN, em 2020 foram realizados 365 procedimentos para preservação de ovócitos – não associados a doenças –, mais 65 do que em 2019, altura em que os casos já tinham duplicado face ao ano anterior (171 em 2018).

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Texto: Carla S. Rodrigues; Fotos: Shutterstock e DR

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